SO-SEE-A-TI | Ricardo Runa

SOCIEDADE – rede complexa de interações humanas guiadas por valores, normas e instituições que moldam a vida coletiva, interações digitais dominam o nosso quotidiano e as redes sociais prometem eliminar as barreiras da distância. Paradoxalmente, nunca foi tão fácil sentirmo-nos sós. Numa sociedade que valoriza a produtividade, a aparência e a competição, é comum que muitos se isolem emocionalmente, mesmo estando próximos de pessoas. A pressão por corresponder a padrões elevados cria uma barreira invisível, onde demonstrar vulnerabilidade ou necessidade de companhia parece um sinal de fraqueza. Assim, a solidão instala-se, não pela ausência de companhia, mas pela ausência de conexão genuína. A solidão é um fardo silencioso, que se manifesta em olhares vazios, conversas desprovidas de significado e na rotina mecânica que disfarça a sensação de vazio. É como se houvesse uma desconexão entre o indivíduo e o resto do mundo, um abismo onde a pessoa grita, mas ninguém ouve. O adolescente que sente que não pertence, o adulto que vive entre compromissos sem tempo para si ou o idoso que já não encontra mais o espaço que ocupava. Cada um enfrenta a solidão à sua maneira, procurando preencher o vazio com trabalho, hobbies, ou mesmo através de interações superficiais, que raramente resolvem o problema. A solidão, no entanto, não é uma sentença, pode ser um convite para uma reflexão mais profunda sobre as nossas relações, as nossas escolhas e sobre o que realmente importa. Quando reconhecemos que estar só não precisa ser sinónimo de solidão, encontramos a possibilidade de nos conectarmos de maneira autêntica, começando por nós mesmos. E talvez, nessa jornada, possamos lembrar que, embora nos sintamos sozinhos em determinados momentos, a experiência humana é, na sua essência, compartilhada. Ao reconhecermos isso, encontramos o potencial de transformar a solidão em algo menos doloroso – e mais humano. 

Ficha técnica: 

Coreografia / Cenografia / Desenho de Luz / Sonoplastia / Figurinos – Ricardo Runa 

Intérpretes – Alessia Vogelzang, Alessia Scorcia, Belize Schroeder, Chiara di Giulio, Daniil Kliuchnikov, Milena Fosco, Nathan Keenoo, Rocio Palmero. 

Música – Dis Fig, Thanos Ana, Travis Lake, Max Richter, Christophe Filippi, Son Lux, Ron Morelli. 

Patrocínio: Câmara Municipal da Covilhã, Twintex, União de Freguesias Covilhã e Canhoso 

Apoio: Universidade da Beira Interior, Paulo Runa House, Miguel Gigante, Paço 100 Pressa.

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